Percurso Total: 100km
O roteiro é o quarto desse tipo existente no mundo – os outros três são os famosos caminhos de Santiago de Compostela, na Espanha; a trilha da Terra Santa, em Jerusalém; e a de Roma, na Itália.
Os Passos de Anchieta é o nome do roteiro que reconstitui a trilha habitualmente percorrida pelo Padre Anchieta nos seus deslocamentos da Vila de Rerigtiba , atual cidade de Anchieta, á Vila de Nossa Senhora da Vitória onde cuidava do Colégio de São Tiago, em caminhadas quinzenais que ele empreendia nos últimos anos de sua vida quando preferiu recolher-se à vila indígena nas costas do Espírito Santo que tanto lhe evocava a sua San Cristoban de Laguna, em Tenerife, nas Ilhas Canárias, onde nasceu.
Trajeto
O roteiro Os Passos de Anchieta é cumprido em jornadas diárias médias de quatro a cinco horas pelas pessoas que tem o hábito de caminhar regularmente ou por períodos de seis a 7 horas pelos andarilhos mais sedentários que sem o exercício regular se dispõe a fazê-lo.
O roteiro foi resgatado em 1998 e vem se consolidando como uma rota perene, a ser percorrida ou conhecida a qualquer época do ano, por qualquer trecho do percurso.
Os idealizadores do projeto conceberam uma caminhada anual para efeito de promoção da iniciativa cujo número de participantes é crescente a cada edição. Ela é realizada sempre a partir do feriado de Corpus Christi, beneficiando-se do feriado nacional que favorece a disponibilidade das pessoas visto que o percurso total demanda quatro dias. Nada impede que as pessoas se disponham a fazê-lo em outra época do ano e num ritmo de caminhada que estiver mais disposto.
A Abapa monta pontos de apoio, chamados “oásis”, aos andarilhos em intervalos constantes para fornecer água, frutas e medicação para as câimbras, bolhas e torções que inevitavelmente acabam surgindo nos menos preparados.
Na ocorrência de algum caso mais grave, há ambulâncias prontas para remoção de acidentados. E aqueles que acabam desistindo no meio do caminho, também podem pegar uma carona nos carros de apoio da organização.
Também nos postos, as credenciais devem ser carimbadas para que no fim do percurso o andarilho receba o certificado de participação. É preciso ter pelo menos metade dos 16 carimbos, para comprovar que o trajeto foi cumprido.
Experiência
A experiência da caminhada combina encantos como o conhecimento de sítios históricos, com paisagens que se oferecem ao andarilho numa sequência de belos quadros da natureza de uma região que é um marco geográfico da costa brasileira, onde as culturas do norte e do sul do país se encontram.
O que se sobressai acima da gratificação cultural ou do fervor religioso ou da fruição de cenários atraentes é uma singular experiência de introspecção que na prática constitui a alma de todos os caminhos místicos. A reflexão inevitável que uma longa caminhada proporciona enseja insights marcantes. Não por acaso a caminhada é uma adequada metáfora do viver. O recolhimento do andarilho em seus pensamentos alterna-se com a convivência com outros que ali se irmanam no propósito, no mínimo, de chegar a um mesmo destino. É o que basta para criar tácitas redes de solidariedade. Aí os cenários internos, o da emoção de revisitar sentimentos e lembranças, se alternam com os cenários externos, as percepções do ambiente, o recorte formoso de uma pequena enseada, a trilha por entre uma vegetação remanescente da outrora exuberante Mata Atlântica.
Além do perfil diversificado do andarilho, juntando pessoas que gostam de desfrutar a natureza ou que cultivam práticas físicas ou então se deixam levar pelo apelo da religiosidade, a cada ano Os Passos de Anchieta atrai aqueles que buscam o caminho também por orientação de terapeutas que prescrevem uma boa caminhada como um oportuno exercício de autoconhecimento.
Independentemente do motivo que o provoca, o caminhar já é um exercício poderoso. No começo de uma caminhada o corpo enfrenta um breve desconforto pelo rompimento da inércia. Logo ele estará liberando hormônios como endorfinas, betaendorfinas e serotoninas que são considerados os elixires da felicidade. Elevam o ânimo e ao entusiasmo (“Deus dentro de si”) e aí, mais que a contemplação da natureza, a maior gratificação da caminhada. Ou do caminho.
Percorrer os Passos de Anchieta sozinho, em solitude (estando bem consigo) ou na companhia de alguém é uma rica e marcante experiência. Isso ajuda a explicar porque depois do surgimento desta rota, em 1998, começou a proliferar em várias partes do país muitas trilhas, caminhos e rotas fundados pelas mesmas motivações.
O grande prêmio da caminhada é a visão da escadaria que leva ao santuário de Anchieta, uma construção jesuítica de 1597, erguida pelo beato em seu último ano de vida com a ajuda dos índios tupis. Nessa hora, os participantes compartilham não só a refeição de boas-vindas, mas também toda uma história de solidariedade, superação de obstáculos físicos, companheirismo e satisfação.
Mais informações: www.abapa.org.br
Fonte: www.abapa.org.br