Toda semana juntamos umas poucas pessoas para conviverem diuturnamente por 11 dias e caminhar 241 quilômetros.
O cardápio é variado: chuva, frio, calor, lama, poeira, sorriso, choro, alegrias, tristezas, surpresas, decepções, aventura, monotonia – enfim – conhecer o desconhecido e experienciar o inédito.
Convém lembrar que estamos falando de desconhecidos com hábitos, personalidades, culturas e etnias diferentes.
Um Big Brother do bem!
Com uma mochila nas costas e um cajado nas mãos poderão desbravar um novo mundo e certamente dar de cara com um “novo eu”.
Uma releitura “de vida” e “da vida” – um processo inconsciente de “mais valia” – uma desconstrução sem couraças, para blindar sentimentos e emoções.
Vivenciar momentos de fraternidade e perceber que são seres humanos – verdade que no frenesi do dia a dia, geralmente não é percebida.
No início os bloqueios são visíveis – lidar com situações novas e uma rotina totalmente diferente que rebaixa o nível de conforto de cada caminhante e atende por “perda da privacidade” – quartos e banheiros coletivos, assim como lavar a própria roupa tornam-se barreiras e vez por outra produzem algumas vítimas.
Um desafio que trás aprendizados – muitas reflexões e acaba por forjar um novo ser – simples e desapegado – que passará a viver sua essência e não seu personagem.
Assim, ao longo da jornada vamos perdendo as vergonhas – os mais sensíveis aprendem a conviver com as diferenças e a crescer com as dificuldades.
Perder a vergonha de ouvir, de falar, de entender, de respeitar o outro e a si mesmo – afinal existe um universo imenso que vai bilhões de quilômetros além do próprio umbigo.
Hábitos, conceitos e preconceitos desde sempre arraigados são revistos e expurgados – geralmente com dor.
Perder a vergonha de sermos nós mesmos – perder a vergonha de compreender e aceitar nossos erros, deficiências e deformações.
Perder a vergonha de ser humano – perder a vergonha de reconhecer seus limites, perder a vergonha de ocupar seu espaço, perder a vergonha de “se” permitir e “permitir” que o outro tenha seu espaço, perder a vergonha de dizer sim, perder a vergonha de dizer não e de perder outras tantas vergonhas que nos impedem de alcançar a plenitude que buscamos.
Na verdade, ao passo dado perdem-se as vergonhas.
Uma a uma ficam pelo caminho do passado – passado por uma imensidão de passos.
Pois é, querido leitor – saiba que sinto muito orgulho de pertencer a este bando de sem vergonhas.