Existe uma beleza oculta ou um arco íris teleguiado por Deus, para que milagres ou sincronicidades façam parte de nosso Caminho.
Acontecimentos que brotam como uma flor no meio do deserto. Embora se apresentem como imprevistos, não passam de testes que Ele nos coloca para saber se estamos fazendo o dever de casa.
Uma infinidade de intercorrências que parecem surgir para amassar a esperança de novas conquistas, para magoar os encantos de um sonho ou para engessar um desafio, podem despertar o medo latente e subtrair a glória de alcançarmos o objetivo; Como na fobia da vida só olhamos para nosso umbigo, não nos damos conta que tudo não passa de um “ato de Deus”.
Quantas vezes tivemos a chance de estar ao lado de alguém, que a princípio pensávamos ser somente um consultor de palpites e ao final entre sorrisos e algumas dúzias de passos mostra-nos que o coração é como o solo - igualzinho ao que estamos deixando nossas pegadas - pode ser árido ou pode ser fértil – e desta certeza aconchega-se o percebismo e o discernimento do ponto onde floresce o mito da vida bem vivida – pode ser uma viçosa floresta de amor, compaixão, fé, amizade, simplicidade, honestidade, ética, desprendimento, perdão, acompanhadas por uma usina de energias positivas.
Mas também pode ser um deserto árido, onde uma vida sem vida rasteja esmolando migalhas do nada, para sobreviver na certeza que a miragem que avista o oásis é o paraíso que irá habitar.
Faço questão de repetir a cada grupo que inicia o Caminho:
--“Nunca tome uma decisão quando chegar à pousada” – por mais cansado, dolorido, nervoso ou desanimado - dê um tempo. Tome um bom banho, coma e durma um soninho; Deixe a decisão para o dia seguinte.
Mas os hieróglifos que encontramos ao longo do caminho tornam expirante a autoconfiança, e vez por outra faz com quem cheguemos às pousadas “in anima vili” (alma vil, irracional).
Reclamava de tudo - que estava calor, que os chuveiros gotejavam que as camas eram baixas, que tinha muita cana, que o calçado apertava, da chuva, do frio e de tudo que o Caminho lhe apresentou. Trocou o azul do céu, bordado com grandes almofadas brancas, pelo caos da lamentação e do sofrimento; Até o dia que passou por uma casa muito simples pintada com cal branca e janelinhas borradas por um azul que os anos fizeram desbotar. No quintal de chão batido, uma senhorinha sentada em uma cadeira de rodas, saudava cada caminhante com um aceno leve e sorriso materno. A menina – por certo, sua neta - embalava uns trapos multicoloridos – acreditando que ninava sua boneca, com os loiros cabelos emprestados por uma espiga de milho. Pendurado em arames, que um dia foi uma pequena cerca - mal escrito em uma folha de flandres - apertando a tecla SAP, pôde ler:
“A dor chega e entra, mas o sofrimento é a gente que abre a porta”
Fonte: Tribuna de São Pedro